Tuesday, May 16, 2006

insônia

- Você não dorme por que não quer. É consciente.

E ela olhou para a janela do quarto, mas seu olhar parou na tela. Parou nos contornos da tela escura contra o céu de fim de tarde. Ela pensou em tudo o que poderia dizer, em todas as coisas que bagunçavam seu estômago e sua cabeça e em por quê, de fato, já não podia mais dormir. Pensou, pensou, encheu-se de lágrimas nos cantos dos olhos e não disse nada. Apenas se envolveu num abraço forte, fechou os olhos e esperou o quarto escurecer devagar à medida que a noite chegava.

Não dormiu. Ainda não sabia dormir com aquele medo que nem um abraço forte era capaz de afastar.

Thursday, May 11, 2006

página um

Na minha vida, sempre gostei de duas coisas: escrever e virar páginas. Foi quando entrei na faculdade que esqueci o prazer que me davam coisas tão triviais. O curso? Jornalismo. Por alguma ironia do destino.

Desde os 7 anos mantenho diários incompletos. Aos 14, comecei a escrever em folhas soltas, pedaços de papel e guardanapos. Pouco depois, descobri os blogs. É bem verdade que isso de jogar palavras no papel nunca foi algo constante. Era de momento: eu escrevia para extravasar, para gritar, pra me livrar das coisas que me faziam triste e eternizar as que me davam alegria. Em suma: eu transcrevia meus exageros, minhas paixões, meu desespero. Escrevia, lia e virava páginas com muita freqüencia.

Quer saber? Esse negócio de crescer é que atrapalha tudo. Não se manda uma menina de 17 anos virar adulta da noite para o dia sem perder algo. Em mim, o que se perdeu foi a inspiração. Quando me dei conta, já não lia mais livros, já não criava histórias e já não sabia mais escrever por prazer de escrever. Me acomodei de tanto viver na rotina e acabei descobrindo que estava me envenenando devagar.

Vale a pena então usar o último recuso que me resta. Talvez isso não me traga de volta a inspiração de viver que eu tinha antes. Mas vai me trazer a vontade de tentar. Daqui pra frente, a história é outra e só as coisas boas ficam. O resto, picotei e mandei para o lixo.

Virei a página da minha vida.