Monday, June 26, 2006

cartões postais

As cartas sempre foram a sua mais antiquada paixão. As longas cartas: rabiscadas, manchadas, amassadas, escritas com toda a calma e a paciência de alguém que parou por uma hora só para pensar no que dizer. Sempre lhe pareceu que as cartas foram destinadas às grandes declarações e aos grandes pensamentos.

Até aquela noite em que entregaram, em meio às (não tão desejadas) cartas de cobrança e (pouquíssimo interessantes) propagandas duvidosas, três cartões postais.

Ela passou meia hora admirando a imagens. Leu e releu dezenas de vezes as mensagens escritas no verso: curtas, e ainda assim cheias de significado. Entendeu, então, que as mais verdadeiras declarações não precisavam de várias páginas para serem escritas e que não eram necessárias horas a fio para se dizer as coisas realmente importantes.

Bastava saber que, ao visitar um lugar bonito, alguém pensou em você. Ele poderia ter pensado em dezenas de coisas. Mas pensou em você.

Thursday, June 22, 2006

e assim os dias vão passando

O grande problema da distância é que ela causa insegurança.

Dia 1: Checa e-mail. Nada. Tudo bem. Espera. Checa de novo. Nenhuma mensagem nova. Ok, orkut. Scrap da amiga, do primo e um vírus da nova moda. Em suma: nada. De novo. Quem sabe seja hora de dormir..
Dia 2: Email. 3 mensagens novas. Felicidade. 3 spams. Infelicidade. Paciência. E se.. E se.. Esquece.
Dia 3: Orkut-Skype-Fotolog-Email-Orkut-Fotolog-Email-Skype-Email. E se ele tiver me esquecido? Ansiedade.
Dia 4: Desiste de checar o email. Pára com isso, uma hora chega, você sabe. Mas, já são 7 e meia da noite. Já não é tarde demais para esperar alguma coisa? Tristeza. Tanta que nem dá pra escutar direito o telefone tocando. Essa droga desse telefone que só toca nas horas erradas! Enfia a cara no travesseiro.

- Eeeeeeeei!
- Que é?
- É ele no telefone!

Ela corre pelo corredor e derruba a cadeira na passagem.

- Alô?
- Oi..

Foi como um banho de água morna quando se está morrendo de frio. E mesmo depois de falar, de rir e de desligar o telefone, ainda resta aquele aperto leve no peito (como quando a gente se apaixona pela primeira vez e cada sorriso, cada palavra e cada telefonema tem um significado único e especial).

No fim, a distância também faz com que a gente dê mais valor a essas pequenas coisas que, no corre-corre do vida, passam quase sempre despercebidas. E quanto a saudade... Bem, já diria o cantor: saudade é melhor do que caminhar vazio.

Saturday, June 03, 2006

um sorriso de despedida

O som do aeroporto já havia anunciado a última chamada quando o grupo chegou ao portão de embarque. Ela ficou olhando ele se despedir da família e dos amigos, um por um, e esperando a hora de receber o seu último abraço. (Poucos abraços passam assim, em câmera lenta.)

Ainda que as pessoas no saguão falassem todas ao mesmo tempo e buscassem de uma forma ou outra atrair sua atenção, ela sempre virava um pouco os olhos na esperança de ver se ele ainda estava ali. Primeiro em uma fila, depois em outra.. Quando enfim chegou a hora de ir, ele virou-se e estendeu o braço em um aceno. Ela sorriu e ficou nas pontas dos pés para devolver o gesto. E então ele finalmente saiu da vista.

Embora ela fosse toda lágrimas por dentro, a última imagem que ele iria carregar era a de seu sorriso. Isso a fez feliz.